quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fernando Pessoa


O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo... Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia; tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar...
    Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Copyright © 2014 | Design e Código: Sanyt Design | Tema: Viagem - Blogger| Personalizado por: Jeniffer Yara | Imagens do Header: Pinterest | Ícones de gadgets/categorias: Freepik | Uso pessoal • voltar ao topo